Os trabalhos arqueológicos foram levados a cabo na Rua da Rosa, nº51 a 53 e Rua Luz Soriano, nº44 a 52, em Lisboa, no âmbito da reabilitação do edifício, com vista à construção de habitação.
O edifício em questão localiza-se numa zona sensível do ponto de vista arqueológico, definida no PDM de Lisboa como de nível 2, em pleno Bairro Alto, zona histórica da cidade de Lisboa e classificada como Conjunto de Interesse Público desde 2010.
Os trabalhos foram autorizados pela DGPC através do ofício nº S-2016/399301 (C.S. 1103757), datado de 27/05/2016, referente ao Processo nº 2003/1 (438) (C.S. 145905).
Os trabalhos consistiram na abertura de cinco sondagens de diagnóstico manuais, executadas nas zonas de maior afectação de solo, nomeadamente na área do poço do elevador, sapatas e vigas de fundação e caixa de visita de ligação ao colector público. Porém, em campo, foi necessário proceder a algumas alterações, tendo algumas das sondagens sido reposicionadas em outros locais, uma vez que a imensa espessura de bases/sapatas de betão inviabilizou a execução de algumas sondagens nas localizações inicialmente previstas e apresentadas no Plano de Trabalhos Arqueológicos.
Uma vez que a estratigrafia identificada era pouco complexa e que apenas na sondagem 4 se identificou um contexto de relevância arqueológica (inumação de cronologia romana), os trabalhos de diagnóstico foram dados por concluídos, efectuando-se posteriormente o acompanhamento arqueológico de todas as movimentações de terras, executadas com recurso a mini-giratória apetrechada de balde de limpeza.
A área em estudo dispõe de uma sequência estratigráfica simples e pouco expressiva, onde se recolheu muito pouco material, uma vez que a maioria dos contextos eram claramente de cronologia contemporânea, associados sobretudo a infra-estruturas de esgotos.
De grande relevância para o conhecimento e estudo desta zona específica da cidade de Lisboa são as duas inumações de cronologia romana tardia identificadas junto ao limite Nordeste do edifício. Trata-se de dois indivíduos adultos, um aparentemente do sexo feminino, o outro de sexo indeterminável, depositados em decúbito dorsal segundo uma orientação Oeste-Este. Apenas o primeiro indivíduo, [405], apresentava espólio, consistindo este em três numismas colocados junto ao ombro direito. À semelhança do que acontece em outras sepulturas de época romana, estas apresentavam cerâmica de construção, nomeadamente uma tégula e diversas ímbrices, como cobertura.
A não identificação de outras sepulturas ou mesmo de outros contextos arqueológicos poderá estar relacionada com a forte afectação do subsolo pela construção dos grandes maciços em betão que ocupavam a maior parte do espaço intervencionado e que se relacionavam com a prévia ocupação do edifício como gráfica e cuja estabilidade da maquinaria só assim era possível.