Abertura de sete sondagens de diagnóstico, manuais, na sequência da reabilitação do edifício sito na Rua dos Bacalhoeiros nº99-115A, com vista à construção de habitação e comércio. O edifício localiza-se numa zona sensível do ponto de vista arqueológico, dentro do Centro Histórico da Cidade de Lisboa, em área abrangida pelo Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina.
As sondagens foram implantadas nas áreas onde se previa maior afectação, nomeadamente nos locais onde seriam abertos poços para colocação de elevadores e de caixas de visita de rede de águas residuais. Embora inicialmente só estivessem previstas seis sondagens, foi necessária, dados os vestígios arqueológicos identificados, a abertura de uma outra que tinha como principal objectivo sondar a possibilidade de alterar o local de implantação de uma das caixas de visita previstas no plano da obra.
A sondagem II foi a menos relevante do ponto de vista arqueológico uma vez que só foi possível identificar o traçado de uma conduta de esgoto que parece estar ainda em uso.
No que diz respeito às sondagens I e VII foi possível verificar a existência de vestígios de estruturas quase superficiais relacionadas com as paredes de contraventamento do edifício pombalino (Santos, 2005, Desenho IX-A). Por sua vez estas estruturas sobrepunham-se a outras que, por comparação com as identificadas na sondagem III nos parecem pré-pombalinas. No caso concreto da sondagem I, o aparecimento de uma estrutura bastante robusta e maciça (com pelo menos 1,20m de largura observável), leva-nos a crer que podemos estar perante uma parte da cerca mandada construir por D. Fernando (embora Vieira da Silva na sua obra não tenha assinalado nenhum troço no alinhamento da fachada, apenas no sentido Sul-Norte). Infelizmente, do depósito sedimentar escavado e que encostava à estrutura, apenas foi possível recolher dois fragmentos de cerâmica comum, sendo que apenas um permite atribuição de forma e cronologia (fragmento de caçoila enquadrável entre meados do século XIV e o século XV).
Na sondagem VII não se recolheram materiais associados às estruturas, apenas foi possível estabelecer a posterioridade de umas em relação a outras. Não nos parece, contudo, que qualquer das estruturas identificadas represente vestígios da Muralha Fernandina.
Na sondagem III, conforme referido, identificou-se uma estrutura com uma robustez idêntica à da sondagem I, embora aparentemente mais alterada. Foi possível estabelecer uma largura mínima de 1,75m e um comprimento de cerca de 3,50m, continuando para lá dos cortes Norte e Sul. Pelas suas características construtivas e orientação pensamos poder tratar-se do troço Sul-Norte proposto por Vieira da Silva (1987d), embora desviado em cerca de 6/7 metros. De salientar que esta hipótese se deve exclusivamente às suas dimensões, uma vez que os dados apenas nos permitem afirmar tratar-se de uma construção anterior ao Terramoto de 1755. Para as restantes estruturas identificada, embora sem dados materiais que o comprovem, avançamos a hipótese de se tratarem de vestígios do antigo Paço da Madeira que existiriam neste local antes do terramoto de 1755.