Os trabalhos de acompanhamento arqueológico foram efectuados na sequência da reabilitação/construção do prédio nº 122 da Rua do Salitre (Lisboa). O edifício em causa localiza-se em área de nível 3, no que concerne à sensibilidade arqueológica, tendo por conseguinte todos os trabalhos que implicavam revolvimento de terras sido acompanhados por equipa de arqueologia. A construção de um novo edifício no local previa o reaproveitamento da fachada principal do edifício existente edificado na primeira metade do século XX.
Os trabalhos, que decorreram de 9 de Outubro a 1 de Dezembro de 2014, consistiam no acompanhamento da escavação mecânica a efectuar no interior do edifício, bem como, em casos pontuais, da demolição de parte das paredes do mesmo. O projecto previa um rebaixamento de toda área em cerca de 1m abaixo da cota do piso do edifício existente, exceptuando no caso de duas plataformas localizadas logo à entrada do mesmo e que correspondiam a um piso superior onde a escavação se fez em cerca de 3m de profundidade. Estando a área à mesma cota, estava ainda prevista a abertura de valas para implantação de novas sapatas, com larguras entre os 50/60cm e uma profundidade de cerca de 60cm para além do nível de rebaixamento (atingindo a cota c. 75,60m).
Durante os trabalhos não se registaram estruturas que não estivessem relacionadas com a ocupação actual do espaço, identificando-se apenas aterros de natureza bastante heterogénea com materiais que se enquadram entre os séculos XVII e XXI.
A estratigrafia registada durante os trabalhos de acompanhamento é relativamente simples, percebendo-se claramente uma fase datável do Século XX que consiste na construção ou reestruturação levada a cabo no edifício existente, naquele que se considerou um segundo piso ou patamar.
Por outro lado, os níveis afectados pela construção daquele que se designou Edifício 2 correspondem a dois aterros distintos, separados entre si por aquilo que poderá ser interpretado como um nível de colmatação, a argila [110/211]. Os materiais recolhidos permitem datar esses dois aterros, [105a/206] e [111/212], dos séculos XVIII e XVII, respectivamente.
A análise da cartografia de diferentes períodos bem como a análise dos materiais recolhidos, parecem confirmar que o espaço envolvente da área intervencionada foi alvo de um projecto de desenvolvimento urbanístico pós-terramoto de 1755, hipótese fundamentada por Carlos Consiglieri, Filomena Ribeiro, José Manuel Vargas e Marília Abel quando descrevem que “ao longo desse caminho [entenda-se Rua do Salitre] foram-se sucedendo as construções, sobretudo a partir do século XVIII, apresentando hoje um repositório de estilos e épocas que justificam uma atenção demorada” (1995, p. 126-127).
Responsáveis pelo Projecto: Nuno Neto, Pedro Peça e Miguel Rocha