Os trabalhos arqueológicos de sondagem e acompanhamento de abertura de vãos, no âmbito da reabilitação do imóvel sito no nº 100 da Rua do Ouro, no cruzamento com a Rua de São Nicolau, nº91-97, em Lisboa, consistiram em sondagens manuais de diagnóstico no solo junto às áreas já intervencionadas pela obra de forma a avaliar a sequência estratigráfica do local e o seu potencial arqueológico.
Foram assim abertas duas sondagens manuais totalizando cerca de 5,48 m2. A sua localização foi contígua à intervenção executada anteriormente pelo promotor, de forma a compreender o tipo de afectação que esta pudesse ter tido sobre eventuais contextos preservados no subsolo. A abertura destas duas sondagens efectuou-se ao nível do piso -1, no local anteriormente ocupado pelo armazém de uma farmácia que laborou naquele local até Janeiro do presente ano. Destes trabalhos resultou a identificação de uma estrutura horizontal tipo gaiola, de época pombalina, tendo como função o embasamento estrutural do edifício. Outras duas estruturas, possivelmente pré-terramoto, foram registadas (uma em cada sondagem), não sendo possível, por se tratarem de áreas limitadas, pormenorizar muito acerca destas.
Procedeu-se ainda ao acompanhamento e registo arqueológico da abertura de dois vãos, de forma a compreender o aparelho das paredes, a sua evolução e a afectação inerente a estes trabalhos.
A interpretação dos vestígios identificados está condicionada à natureza dos trabalhos efectuados, uma vez que a área sondada é exígua e não permite observar a total extensão das estruturas.
Genericamente, as sondagens de solo efectuadas permitiram identificar um pavimento constituído por lajes de calcário, que indiciam uma ocupação daquele espaço (compartimento 2) provavelmente contemporânea ao edifício pombalino. Sob este pavimento surgem então aterros de natureza bastante heterogénea onde se recuperou escasso material arqueológico de cronologia moderna e tardo-medieval.
No caso da sondagem 1, foi observada a existência de uma estrutura em alvenaria de pedra e argamassa de cal [105], cuja função e cronologia é de difícil determinação, devendo esta estrutura ser contemporânea a uma outra de características semelhantes observada na sondagem 2, estrutura [205]. Ambas são seguramente anteriores ao terramoto de 1755, possuindo em associação (embora em deposição secundária) materiais com cronologias entre os séculos XIV/XV e a segunda metade do século XVII.
A sondagem 2 possibilitou ainda a identificação do alicerce de uma das paredes-mestras do edifício pombalino, assentando este sobre a típica estacaria de madeira tão comum nos edifícios da baixa pombalina.
Foram ainda abertos dois vãos de cerca de 2m x 1m, que possibilitaram a ligação dos distintos compartimentos de cave do edifício. O acompanhamento destas aberturas e as sondagens parietais prévias permitiram caracterizar o aparelho que compõe as duas paredes-mestras. Estamos assim perante estruturas com larguras entre os 0,40m e os 0,65m, edificadas em alvenaria de pedra calcária e biocalcarenitos, unida por argamassas de cal de cor esbranquiçada/amarelada de forte consistência.
Responsáveis pelo Projecto: Nuno Neto, Paulo Rebelo e Pedro Peça