A intervenção de acompanhamento e escavação arqueológica surge no âmbito da construção de um hotel (Eurostars Museum Hotel), que ocupou todo o espaço dos antigos armazéns Sommer, sitos na Rua Cais de Santarém, nºs 40 a 64 limitados a norte pela Rua de São João da Praça e a Este pela Travessa São João da Praça - Lisboa. Importa referir que o edificado actualmente existente possui uma raiz antiga associada ao palácio do Conde Linhares (séc. XVI) e ao palácio do Conde da Torre, senhor dos Morgados de Coculim e Verodá, na Índia Portuguesa, o qual posteriormente passa a ser proprietário de todo o espaço, ficando conhecido por palácio de Coculim. Com o terramoto de 1755 o palácio de Coculim cai em ruína. A partir de meados do século XIX e inícios do XX, a área passa a ser alvo de diversas adaptações, principalmente ao nível dos interiores, procurando-se espaços abertos na adaptação do edificado a armazéns de ferro da empresa Sommer & Companhia, que terão ocupado aquele espaço a partir de 1858. Em 1919 Henrique de Araújo Sommer constitui a Empresa de Cimentos de Leiria, que viria a instalar os seus escritórios em dependências do edifício alvo de estudo, mantendo-se aí até 20/04/1958.
É de realçar a presença, ao nível do subsolo, de um importante conjunto patrimonial de época romana, tardo-romana, medieval e moderna, bem como a sequência de três panos de muralha da cidade de Lisboa: romana, tardo romana e Cerca Moura, de cronologia medieval islâmica.
Deste modo, a Neoépica desenvolveu, com uma vasta equipa, uma série de intensos trabalhos arqueológicos, que genericamente passaram pela escavação de todas as áreas que foram sujeitas a mobilização de solos, bem como pela caracterização do edificado existente, materializada na execução de trabalhos de picagem parietal, na vertente da arqueologia da arquitetura.
A intervenção permitiu confirmar os dados já conhecidos, recolhidos em 2004 e 2005 em intervenções arqueológicas decorridas sob a responsabilidade da Dra. Ana Gomes.
As intervenções nos Antigos Armazéns permitiram assim registar a presença na frente ribeirinha da cidade de Lisboa de uma longa e continuada sequência, revelando uma série de contextos que são testemunhos únicos das transformações e adaptações de que a cidade é alvo pelo menos desde o período sidérico até aos nossos dias.
Artigos relacionados:
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- Uma inscrição lapidar fenícia em Lisboa (Revista Portuguesa de Arqueologia).
- Placa funerária nos armazéns Sommer, Lisboa (Ficheiro Epigráfico 164, Suplemento Conimbriga).
- Enterramento do Neolítico Antigo em fossa na zona ribeirinha de Lisboa (Estudos Arqueológicos de Oeiras, Volume 24).
- Dados preliminares de uma intervenção arqueológica nos antigos armazéns Sommer (2014-2015). Três mil anos de história da cidade de Lisboa (I Encontro de Arqueologia de Lisboa, Centro de Arqueologia de Lisboa).