Salvaguarda de uma área de interesse público
Área mais a Sul do Fosso da Fortaleza, Cidadela de Cascais. Constituído por uma estrutura amuralhada que circunda o edifício a Oeste, Norte e Este, estando a fachada Sul virada para o mar.
Apesar de não ser conhecida a data certa da construção da fortaleza de Nossa Senhora da Luz, sabe-se que ela terá sido levantada por volta de 1590. Esta fortaleza não é mais do que o abaluartamento da velha Torre de Cascais, como aliás foi comprovado pelas escavações arqueológicas realizadas na década de 1980. De planta triangular, esta fortificação marítima tinha a envolvê-la um largo fosso que primitivamente teria os dois acessos abertos ao mar como está representado numa planta de 1590 da autoria de Vicenzio Casale. Contudo, é de crer que já nessa altura se pensasse em fechar esses acessos, já que um fosso aberto era seguramente menos defensável. Assim, não é de estranhar que em 1594 o seu encerramento estivesse previsto em duas plantas, uma da autoria de Filipe Terzi, e outra anónima. Nestes desenhos, os muros projectados da futura cidadela encerravam completamente o fosso ao mar. Três anos mais tarde, também Leonardo Turriano apresenta um projecto de reforço da fortaleza de Nª Sª da Luz com uma cintura de muralhas de terra e cal que envolvia também este fosso. Nas primeiras representações da cidadela, de finais do século XVII, o fosso da Fortaleza de Nª Sª da Luz já está murado. Assim, podemos supor que este fosso só não esteve seco no máximo durante cerca de cinquenta anos.
Enquadramento: Trabalhos efectuados no âmbito do projecto de construção de uma escada de acesso entre o Passeio Dona Maria Pia e a Marina de Cascais, que iria afectar a zona do fosso, junto ao Baluarte Este da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz.
Objectivos: Levar a cabo uma acção de salvaguarda de uma área considerada imóvel de interesse público, de acordo com a legislação vigente, de forma a perceber a sua sequência estratigráfica, que pode ser severamente afectada pelas obras de implantação da escada que ligará o Passeio Rainha Dona Maria Pia à Marina de Cascais; e verificar o tipo de implantação estrutural da muralha do Baluarte Este bem como qual seria o nível original do Fosso.
Trabalhos: Os trabalhos de campo consistiram na abertura de cinco sondagens manuais, de 2m x 2m, implantadas na área a afectar pela construção da escada, numa tentativa de reconhecer a estratigrafia do local, sucessivamente entulhado ao longo dos séculos.
Materiais: Acima do que consideramos ser o pavimento original do fosso foram identificadas várias camadas de enchimento ou despejo com materiais arqueológicos enquadráveis entre o século XVII e XIX.
Entre eles surgem numerosos exemplares de cerâmica comum, cerâmica vidrada, faiança, fragmentos de metal e objectos em vidro, pederneiras em sílex, botões em osso e marfim, etc.
Resultados: Ao longo dos trabalhos de escavação foi possível identificar sondagens com dois tipos de realidades distintos: as sondagens I, II/V e III em que a estratigrafia do fosso foi cortada para implantação de uma caleira de esgoto em meados do século XX; e a sondagem IV que não foi afectada pela implantação dessa caleira.
Podemos distinguir, em termos estratigráficos, três momentos de utilização do Fosso:
O momento inicial de abertura do fosso e de colocação de uma primeira camada de pedras de médias e grandes dimensões. O fosso original da fortaleza de Nª Sª da Luz estaria praticamente à cota da plataforma rochosa onde a fortaleza se implanta, tendo sido nivelado, para facilitar a circulação, com pedras de dimensões variáveis.
Um segundo momento que corresponde ao entulhamento do fosso com terras provenientes da Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz aquando da realização de obras no seu interior nos ínicios do século XIX, terras estas que terão sido niveladas e sobre elas implantada a ponte que liga as duas baterias da fortaleza, bem como uma nova camada de pedras.
O terceiro momento corresponde ao entulhamento do fosso com terras possivelmente provenientes de obras no Palácio da Cidadela em princípios do século XX. Estas terras terão sido niveladas e por cima delas foram depositadas terras de jardinagem quando o fosso foi transformado em jardim, perdendo as suas funções militares. Nos anos 40 foi aberta uma vala para implantação de uma conduta de esgoto, existindo a necessidade de uma nova colocação de terras de jardinagem para que a zona continuasse a funcionar como jardim.
Data do Projecto: Março a Novembro de 2004
Responsável: Margarida Magalhães Ramalho e João Pedro Cabral
Responsável: Margarida Magalhães Ramalho e João Pedro Cabral