Os trabalhos arqueológicos de acompanhamento e escavação foram efectuados no âmbito da reabilitação
do imóvel sito no nº 14 da Rua Direita (Fracção A) e nº5/7 da Rua Josefa de Óbidos (Fracção B), em Óbidos.
O edifício localiza-se no Centro Histórico da Vila de Óbidos, núcleo classificado como
Monumento Nacional desde 1951, pelo Decreto nº 38 147, DG 1ª série, nº 4, de 05.01.1951,
pelo que os trabalhos, envolvendo intervenções no solo e nas paredes do edifício, estiveram condicionados a acompanhamento arqueológico.
Deste modo, foram acompanhados todos os trabalhos de picagem de paredes em ambas as
fracções do edifício e de movimentação e revolvimento de terras apenas na Fracção B.
As duas fracções encontravam-se em diferentes graus de preservação, sendo que a primeira
estava em bom estado de conservação, servindo para actividades de comércio. Já a segunda,
abandonada, encontrava-se em muito mau estado de preservação, tendo servido de habitação
e espaço comercial até cerca de 2011.
No seguimento dos trabalhos de acompanhamento na Fracção B, foi detectada a presença de
duas unidades de aterro de pouca espessura, nas quais foram recolhidos alguns materiais
arqueológicos. Foram ainda identificadas duas fossas, tipo silo, escavadas no substracto
geológico, tendo estas sido intervencionadas pela equipa de arqueologia até cerca de 20cm
abaixo da cota de afectação da obra.
Os trabalhos que envolveram o edificado permitiram observar que este sofreu várias
alterações na sua estrutura ao longo dos anos.
O aparecimento de portas entaipadas nas paredes Sul, tanto na Fracção A como na Fracção B,
sugere que a certa altura, provavelmente aquando da sua construção, este e o edifício que
confina a Sul, fariam parte do mesmo complexo, tendo sido edificado já numa data posterior
ao terramoto de 1755, provavelmente nas duas décadas seguintes, como foi sugerido nos
trabalhos realizados no edifício a Sul (34645).
Foi possível observar a continuidade do aparelho construtivo em ambas as fracções, pelo que
as fachadas deste não terão sofrido grandes alterações, tendo estas acontecido em grande
parte nas paredes interiores. A existência de escadas em madeira, ou das suas marcas na
parede, indicam que o edifício não se encontrava dividido em duas fracções, embora fosse
possível aceder ao seu interior através da Rua Direita e da Rua Josefa de Óbidos.
A estrutura do edificado terá sofrido alterações em Época Contemporânea, possivelmente
entre meados do século XIX e inícios do século XX, como sugerem os materiais identificados
nas unidades [119] e [206], que terão servido de aterro para nivelamento do piso e instalação
da parede Oeste. Esta, não se tratando de uma das paredes originais, terá sido construída
entre meados do século XIX e inícios do século XX, como sugerem os materiais encontrados
nestas duas unidades de aterro, divididas precisamente pela instalação desta estrutura. Como
não contém alicerces, pode-se dizer que se trata de uma construção prévia a meados do
século XX, altura em que se começou a regular a instalação de fundações em construções
deste género.
Em relação às fossas/silos, tendo em conta alguma informação obtida acerca de contextos
semelhantes que foram identificados no imóvel adjacente a sul, terão uma forma piriforme,
também característica de outras estruturas do género encontradas na Vila de Óbidos. A
datação dos materiais recolhidos é também coincidente, apontando para a Época Medieval e
Moderna, altura em que foram inutilizados na sua função original de armazenamento, para
passar a servir de lixeira no seu momento de abandono. Não foi contudo possível precisar a
data de construção destas estruturas devido às condicionantes acima mencionadas.
Os trabalhos arqueológicos efectuados, tanto de acompanhamento como de escavação,
permitiram caracterizar com segurança os níveis afectados pelos trabalhos de picagem de
paredes e rebaixamento do solo, principalmente na Fracção B, devido à maior complexidade e
afectação dos trabalhos nesta fracção do edifício.
A nível estrutural, todas as estruturas serão mantidas no seu estado original, à excepção da
parede Oeste na sala 1 da Fracção A, que foi removida e da parede que dividia a sala 1 da sala 2 na
Fracção B, que de início havia apenas previsto o alargamento da sua porta. Esta acabou
por ruir devido ao seu elevado estado de degradação, tendo de ser substituída por uma nova.
Parte das paredes originais que se encontravam desprovidas de revestimento irão ser
conservadas e mantidas à vista para qualquer pessoa que entre no edifício. O mesmo
acontecerá com o nicho identificado na parede Norte da sala 1, que por estar inserido no
futuro restaurante projectado para o local, podendo vir a servir de expositor para alguns dos
artefactos arqueológicos identificados e recolhidos nas fossas/silos que no local foram
intervencionados, como foi sugerido ao Dono de Obra, permitindo ao público em geral um
contacto directo com a memória viva dos vestígios registados no local.
Responsáveis pelo Projecto: Paulo Rebelo e Catarina Bolila