Trabalhos de diagnóstico arqueológico realizados na Rua das Beatas, número 17 a 23, em Lisboa, entre os dias 17 de Outubro e 06 de Novembro de 2017, no qual se pretende expor os dados recolhidos.
A intervenção arqueológica consistiu na escavação de duas sondagens de solo, tendo por objectivo determinar o potencial arqueológico do local e estabelecer eventuais medidas de minimização a aplicar em fase de obra.
O projecto prevê a construção no local de duas moradias unifamiliares, com o rebaixamento da cota do terreno até ao nível da Rua das Beatas. Nesta fase, o diagnóstico arqueológico incidiu sobre as áreas onde se pretendia efectuar dois poços de inspecção geotécnica, cujo objectivo seria o de conhecer a cota de base dos alicerces dos edifícios contíguos.
Trata-se de uma área considerada como Nível Arqueológico III, das Áreas de Valor Arqueológico, de acordo com o estabelecido no PDM de Lisboa.
A área onde se encontra a Rua das Beatas localiza-se na antiga Freguesia da Graça, parcialmente na Zona Geral de Protecção da Vila Berta, classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 2/96, DR, I Série-B, n.º 56, de 6-03-1996; e próximo da Zona Geral de Protecção do Bairro Estrela d’Ouro, classificado como Conjunto de Interesse Público pela Portaria n.º 740-EC/2012, DR, 2.ª série, n.º 252 (suplemento), de 31-12-2012. Os trabalhos foram autorizados pela DGPC através do ofício nº S-2017/440513 (C.S. 1213341), datado de 27/09/2017, referente ao Processo nº 2017/1 (386) (C.S. 163960).
Os trabalhos arqueológicos efectuados permitiram a caracterização da sequência estratigráfica e da realidade arqueológica presentes no local. É, contudo, de salientar que o diagnóstico realizado nas duas sondagens de solo não atingiu as cotas de afectação previstas pelo projecto de construção.
De modo geral, verificou-se que a sequência estratigráfica identificada nas duas sondagens ilustra uma realidade semelhante, testemunhada essencialmente por depósitos formados por aterros realizados durante o período Contemporâneo e finais de época Moderna. Estes depósitos apresentam características semelhantes, de matriz essencialmente arenosa e de consistência pouco compacta, onde abunda a presença de materiais de construção, como pedras, argamassas e cerâmicas de construção.
Os trabalhos realizados na sondagem 1 decorreram até cerca de 3,30m de profundidade, sendo que 1,80m desta escavação apenas registou a presença de depósitos de época Contemporânea. A restante estratigrafia é ocupada igualmente por depósitos, embora já contendo materiais de finais do século XVIII/ inícios do século XIX, nomeadamente [108], [109] e [110].
No que se refere a vestígios estruturais presentes na sondagem 1, apenas as paredes dos edifícios Sul e Oeste e o muro em blocos de betão [107] foram representados na sequência estratigráfica registada. As estruturas em betão [101] e [103], também de época Contemporânea, foram removidas durante a realização dos trabalhos de escavação e deverão ter correspondido a base de pilar de uma estrutura ali existente anteriormente.
Na sondagem 2, os contextos de época Contemporânea foram detectados até cerca de 1,70m de profundidade, correspondem essencialmente a depósitos formados por aterros e despejo e entre eles constam [200], [201], [203], [203], [204], [205].
Nesta área foram igualmente registadas elementos estruturais que se enquadram neste período cronológico. Referimo-nos ao muro [202] cujo aparelho construtivo é composto por pedras calcárias de calibre variado, entre o pequeno e o grande, dispostas arbitrariamente e unidas por uma argamassa compacta de cor esbranquiçada. O alçado Sul é irregular e tosco, enquanto o alçado Norte de apresenta revestido por um estuque branco.
Para além da estrutura [202], foram identificados três níveis de piso de época Contemporânea, nomeadamente [209], constituído por argamassas brancas amareladas, compactas, com algum cascalho e sedimento castanho, [216], composto por argamassas brancas e cascalho muito compactados, e [212], uma calçada composta por elementos pétreos de pequeno calibre e de forma quadrangular.
Ainda na sondagem 2, foram registados contextos que datarão de época Moderna, mais precisamente de momento posterior ao terramoto de 1755. Para além dos depósitos [219], [220] e [222], identificaram-se dois elementos estruturais dos quais apenas ficou visível o alçado Norte, visto que se encontram cobertos pelo alicerce da parede do edifício que se encontra a Sul.
Referimo-nos ao muro [218] cujo alçado apresenta um revestimento em estuque e revela um aparelho construtivo composto por elementos pétreos unidos por uma argamassa de coloração branca. Já [221], que parece adossar a [218], ostenta um paramento tosco e argamassado e no seu aparelho construtivo são visíveis elementos pétreos de pequeno e médio calibre. Como material de união desta estrutura consta uma argamassa de coloração amarelada e de consistência compacta.