Sondagens Arqueológicas e de Prospecção Arqueológica realizadas na área do Convento dos Capuchos (Colares, Sintra), classificado como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 37077, DG, 1ª Série, n.º 228, de 29 de Setembro de 1948, estando igualmente enquadrado na “Paisagem Cultural e Natural de Sintra”, incluída na lista de Património Mundial (n.º 7, do art.º 1 da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro).
Os trabalhos arqueológicos decorreram no âmbito do Projecto de Recuperação do Convento dos Capuchos, que a Parques de Sintra – Monte da Lua, SA (PSML) pretende implementar com o objectivo de requalificar o espaço e melhorar a oferta turística.
Os mesmos foram realizados entre 1 de Agosto e 19 de Outubro de 2016, tendo decorrido de acordo com o Regulamento de Trabalhos Arqueológicos: «Categoria C – acções preventivas e de minimização de impactes integradas em estudos, planos, projectos e obras com impacto sobre o território em meio rural, urbano e subaquático e acções de manutenção e conservação regular de sítios, estruturas e outros contextos arqueológicos, conservados a descoberto, valorizados museologicamente ou não.» (Artigo 3º do Anexo I do Decreto-Lei n.º 164/2014 de 4 de Novembro).
O objectivo primordial desta acção foi a obtenção de dados para a intervenção de conservação e restauro e paisagística, bem como um conhecimento mais aprofundado sobre o Convento e a sua área envolvente, pretendendo-se aferir conclusões acerca da ocupação do espaço do Convento, pré e pós 1834.
Os trabalhos foram autorizados pela DGPC através do ofício nº S-2016/403771 (C.S. 1116124), datado de 20/07/2016, referente ao Processo nº S-31502 (C.S. 147896).
Os trabalhos de escavação permitiram verificar a presença de várias realidades arqueológicas, que corroboram a vivência deste espaço, quer pelos frades franciscanos capuchos, quer por aqueles que os precederam.
A maior parte dos objectivos preconizados pela PSML estavam relacionados com a obtenção de cotas de pavimento (Sectores 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 11) e verificação do sistema de águas (Sectores 3, 5,6 e 10) do Convento. Mas também se pretendeu caracterizar as várias áreas intervencionadas, com o surgimento de novas realidades arqueológicas, nomeadamente no Sector 1 (caracterização da zona onde será relocalizado o Centro de Apoio ao Visitante), 2 (avaliar a área cercada e outras estruturas existentes aquando do seu uso inicial), 3 (verificar a existência de fundações e rebocos primitivos na parede exterior da Capela do Senhor dos Passos), 7 (verificar a presença de outras estruturas, principalmente na área da sacristia e do celeiro), 8 (caracterizar a área do deambulatório), 9 (caracterizar a área murada e verificar se trata de uma “zona de enterramento”) e 10 (caracterizar estruturas em ruínas e caracterizar supostos abrigos do Frei Honório).
No Sector 1 os resultados foram praticamente nulos, excepto na Sondagem 1.2. onde se identificou um novo caneiro que segue na direcção das Hortas. Esta descoberta poderá condicionar o projecto de construção do Centro de Apoio ao Visitante.
No Sector 2 apenas se identificou um pavimento em calçada que segue desde o acesso ao Terreiro do Campanário até meio do Terreiro dos Peixes, sendo possível que este fosse o caminho público às Hospedarias (actualmente designadas por “Cavalariças”), uma vez que se identificou uma porta entaipada nas “Cavalariças” (S.10.4), com acesso a este Terreiro. O caneiro que seguia das Cavalariças para o Terreiro encontra-se destruído pelas raízes de loureiros, não tendo sido possível detectar para onde desembocava.
No Sector 3, as Sondagens 3.1.e 3.2. permitiram a detecção e dois níveis de pavimento em terra batida, o actual e por baixo outro em pior estado de conservação. Nas Sondagens 3.2. e 3.4. foi possível observar o sistema de condução de águas do Convento quase até aos nossos dias (presença de tubo de PVC), com um intrincado sistema, que foi alterado ao longo dos tempos, apresentando reutilização de caneiros, bem como a inutilização de outros. Foi possível, igualmente, detectar o caneiro proveniente das latrinas em ambas as sondagens mencionadas. No caso da Sondagem 3.3. foi possível detectar um revestimento mais antigo, sob uma mistura de cimento, provavelmente associada aos trabalhos de conservação e restauro da DGEMN.
No Sector 4, ambas as sondagens (4.1. e 4.2), apresentaram por baixo do pavimento em betão vestígios de uma outra estrutura mais reduzida, com pavimento em tijoleira. Esta nova estrutura poderá corresponder aos primitivos confessionários do Convento descritos em algumas fontes. Observou-se igualmente um muro que segue para o Claustro (S.6.1. e 6.3.) que deverá corresponder ao primeiro muro de contenção e delimitação do Claustro.
No Sector 5 foi possível confirmar apenas a presença de uma canalização em chumbo que segue da Casa das Águas pelo corredor (S.5.1) em direcção ao interior do Convento e Claustro. Nas traseiras da Casa das Águas (S.5.3. e 5.4.) não se identificaram estruturas relacionadas com o sistema de escoamento das latrinas, mas sim um despejo enorme de espólio arqueológico em excelente condições, o que nos faz desconfiar da hipótese de se tratar de uma simples lixeira.
Tal como no Sector 3, o Sector 6 permitiu identificar o sistema de condução de águas do Convento, que segue desde a Cozinha do Convento (S.6.4.) na direcção das Hortas (S.6.1.), que sofreu ao longo dos tempos inutilização de caneiros para construção de novos. De igual modo, identificaram-se cinco níveis de pavimento em terra batida, que reflectem as antigas obras e remodelações (construção de caneiros, construção de novo e actual muro de contenção e delimitação do Claustro) que este espaço foi sofrendo ao longo dos tempos, em S.6.1. e 6.3..
A escavação do Sector 7 não foi muito conclusiva, apenas foi possível identificar afloramento rochoso com vestígios de extracção de matéria-prima no Celeiro (S.7.1.) e Sacristia (S.7.2).
No Sector 8, identificaram-se dois níveis de pavimento (o actual e outro anterior) nas Sondagens 8.2. e 8.3. No entanto, destaca-se a presença, de um buraco de poste que deveria pertencer à Via Sacra, alinhado com a porta da Ermida do Ecce Homo, que corta o pavimento mais antigo. De igual modo, identificou-se a presença, exactamente a meio do Terreiro (S.8.3.), de quatro marcas de jogo, que parecem ter sido uma adição ao espaço após a extinção das Ordens Religiosas em 1834.
A escavação do Sector 9 não permitiu caracterizar o espaço murado. Apenas se pode confirmar que não corresponde a uma “zona de enterramento”.
O Sector 10 foi o maior sector intervencionado. As ruínas de um anexo junto à Casa da Horta (S.10.1.) permitiram verificar que se tratam dos limites da Cerca reaproveitados para um pequeno quintal, que tiveram intervenção recente. Nas ruínas das “Cavalariças” (S.10.2, S.10.3. e S.10.4) foi possível identificar os níveis de pavimento mais antigos, bem como como de uma canalização (S.10.2.). Tendo em consideração as fontes existentes sobre a Cova do Honório e os resultados obtidos, tudo leva a crer que a S.10.5. corresponde à Cova oficial, uma vez que a escavação da S.10.6. não foi conclusiva. No que se refere à caracterização da condução do sistema de águas nas Hortas, as Sondagens 10.7. e 10.10 não foram conclusivas, mas nas outras foi possível confirmar a presença de caneiros e ligações (S.10.8 e S.10.9), bem como identificar mais um novo caneiro (S.10.9.)
No Sector 11 identificou-se a pavimento original da “Cozinha Velha” (S.11.1.). Junto ao Portão de Pedra foi possível verificar a presença de degraus de acesso ao mesmo, no interior (S.11.2d) da Cerca e no exterior (S.11.3.).
Os materiais arqueológicos identificados, na sua maioria, são cronologicamente contemporâneos com ocupação do espaço pela comunidade franciscana.