O presente documento tem por objectivo apresentar de forma resumida os resultados alcançados após as duas fases de trabalhos arqueológicos na Rua Nova do Almada, nº 63-73. Estas foram realizadas na sequência dos trabalhos que prevêem a reabilitação do imóvel e a sua conversão em unidade hoteleira, com acréscimo de um piso enterrado.
Na primeira fase dos trabalhos, que decorreu entre 15 e 28 de Dezembro de 2016, realizaram-se três das quatro sondagens de diagnóstico previstas no Plano de Trabalhos. Apenas a sondagem I, cuja localização coincidia com o espaço da loja ainda em funcionamento, não foi executada na primeira fase dos trabalhos. Na segunda fase, que decorreu entre 13 de Março e 4 de Abril de 2017, realizou-se a sondagem I e concretizou-se o proposto na Nota Técnica de 18 de Janeiro: a abertura da sondagem V com o intuito de confirmar os dados das sondagens de prospecção geotécnica; e os alargamentos da sondagem II para Norte e da sondagem IV para Este.
Os trabalhos foram autorizados pela DGPC através do ofício nº S-2016/412971 (c.S. 1139961), datado de 07-11-2017, referente ao processo nº 2013/1(213) (c.S. 151562).
Na sondagem II, a presença de estruturas, positivas e negativas, associadas a materiais arqueológicos de cronologia medieval islâmica e romana permite perceber estarmos perante uma área com uma ocupação bastante antiga. As sepulturas de cronologia romana identificadas na segunda fase dos trabalhos constituem o contexto mais antigo e significativo identificado, destacando-se entre o espólio recuperado um potinho em cerâmica comum, quatro alfinetes de cabelo em osso, enquadráveis nos séculos I e II d.C. e um dupôndio de Vespasiano (69-79 d.C.). A identificação de mais enterramentos, observados na área Norte da sondagem II permite afirmar estarmos perante um troço de necrópole romana com grande potencial arqueológico.
As sondagens III, IV e V não forneceram vestígios arqueológicos significativos, limitando-se estes a níveis de aterro de cronologia enquadrável entre os séculos XVIII e XIX e a estruturas de caneiro sucessivamente alteradas e/ou reaproveitadas. Estas sondagens permitiram, contudo, perceber que os dados obtidos pela empresa Geocontrole aquando da realização de três sondagens de prospecção geotécnica não correspondem, pelo menos no que diz respeito à “S2”, à realidade do local. Esta sondagem estabelecia a existência de depósitos de aterro até aos 2,70m de profundidade, contudo, a sondagem arqueológica (V) realizada nessa área comprova que a potência sedimentar sobre o geológico não ultrapassa os 30cm. A hipótese levantada na Nota Técnica de 18 de Janeiro, de as sondagens geotécnicas terem coincidido com estruturas negativas idênticas à fossa [231], parece agora poder ser abandonada.
condições propícias para uma escavação em área que permita a leitura dos vestígios arqueológicos identificados.
A sondagem I, localizada na área da loja, permitiu identificar estruturas positivas de tipo conduta de esgoto e muros. A manilha de grés [109] parece reaproveitar um caneiro mais antigo cujas paredes são constituídas por fiadas regulares de tijoleiras ligadas por uma argamassa esbranquiçada – [110]. Os dois muros identificados, [116] e [117], fazem esquina ao centro da sondagem, parecendo delimitar um antigo compartimento. O muro [117] é cortado a Sul pela vala de fundação do alicerce do actual edifício. Os materiais arqueológicos recolhidos na vala de fundação da estrutura [116] apresentam formas e decorações típicas do século XVII-início do século XVIII, contudo, encontram-se bastante rolados. Os muros, com cerca de 60cm de altura, assentam em depósitos sedimentares, um dos quais – [115] – apresenta concentrações de cinzas e carvões. Uma vez que a área útil de escavação era bastante reduzida, optou-se por interromper os trabalhos nesse nível, aguardando as condições propícias para uma escavação em área que permita a leitura dos vestígios arqueológicos identificados.