Intervenção arqueológica na Rua Vitor Cordon, nº 19, Lisboa
Enquadramento: Edifício constituído por 5 pisos incluindo a cave, construído no decorrer do séc. XIX, no local onde se situaria o Edifício do Tesouro dos Duques de Bragança. Os trabalhos consistiram na abertura de 7 sondagens de solo e 26 sondagens parietais, distribuídas por todo o edifício com maior incidência na cave e sub-cave.
Objectivos: Caracterização e observação da estratigrafia do local com o intuito de detectar possíveis estruturas relacionadas com anteriores ocupações do local;
- Detecção de troços da Muralha Fernandina;
- Avaliar os momentos construtivos do edifício e definição de técnicas construtivas adoptadas;
- Proposta de eventuais medidas complementares de mitigação de impactes.
Trabalhos: Escavação arqueológica manual de 7 sondagens de solo e 26 sondagens parietais.
Materiais: Apenas as sondagens IV, V, VI e VII revelaram material arqueológico, essencialmente cerâmico. Cronologicamente o material insere-se entre os séculos XVI a XVIII
Resultados: O cruzamento dos dados arqueológicos com a análise histórico/documental permitiu-nos perceber que os pisos inferiores do actual edifício, incluem reminiscências do designado Edifício do Tesouro associado ao Paço dos Duques de Bragança. A documentação existente mostra-nos que o terramoto terá provocado sérios danos nos edifícios do Palácio Ducal, revelando contudo que os pisos térreos se terão de alguma forma mantido, sendo posteriormente ocupados por diversos desalojados e na área envolvente construídas diversas barracas. A mesma documentação atesta essa ocupação até 1841, altura em que se dá um violento incêndio que consome todas essas barracas e abre portas à reabilitação daquela área. Nesse sentido não é de todo estranho que o novo edifício do Hotel Bragança tenha reaproveitado partes das ruínas do antigo Edifício do Tesouro, como parecem indicar os vários elementos recolhidos.
Um outro importante aspecto foi o revelado na sondagem V, situada na galeria da sub-cave (sala 13), que veio mostrar a possível presença da muralha fernandina. Este troço é composto por um aparelho muito compacto de taipa militar e desenvolve-se paralelamente ao actual edifício, encimando a linha de Festo de Monte Fragoso. Estes dados vêm mostrar que a muralha, ao contrário do que descreve Vieira da Silva aquando da sua análise do traçado da Muralha Fernandina, não corresponde à fachada tardoz do Hotel Bragança, situando-se antes a Sul da fachada do edifício, adossando a esta.
No que diz respeito à presença de contextos de natureza antrópica, estes devem apenas situar-se fora da área de implantação do edifício, no pátio interno, bem como sob o átrio no lado Oeste, sendo registados quer pelas sondagens geotécnicas, quer pelos trabalhos da sondagem VII. Já as sondagens abertas nos níveis de cave e sub-cave mostraram o afeiçoamento do substrato geológico, criando plataformas que servem de base às estruturas dos níveis inferiores que assentam directamente sobre este.
Assim, podemos concluir que a área em análise tem como elemento estrutural mais recuado o possível troço da Muralha Fernandina registado na sondagem V. Posteriormente terá sido edificado neste local o Edifício do Tesouro, estando associado ao Palácio dos Duques de Bragança datado do século XVI, revelando os dados das sondagens VI e VII que provavelmente terá sido erguido entre o século XVII e a 1ª metade do século XVIII. Já na 1ª metade do século XIX procedeu-se à construção do Hotel Bragança, que terá reaproveitado o que na época restava das ruínas do antigo Edifício do Tesouro.
Responsáveis pelo Projeto: Nuno Neto e Paulo Rebelo