Enquadramento: Edifício constituído por 3 pisos construído no decorrer do séc. XIX, no local onde se situariam edifícios anexos
do palácio do Marquês de Valença. Os trabalhos incidiram essencialmente no piso térreo e na fachada Oeste do edifício, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa.
Objectivos: Caracterização e observação da estratigrafia do local com o intuito de detectar possíveis estruturas relacionadas com anteriores ocupações do local;
- Detecção de troços da Muralha Fernandina;
- Avaliar os momentos construtivos do edifício e definição de técnicas construtivas adoptadas;
- Proposta de eventuais medidas complementares de mitigação de impactes.
Trabalhos: Escavação arqueológica manual de seis sondagens no solo e sete sondagens parietais.
Materiais: Cerâmica de construção, cerâmica comum, 3 fragmentos de majólica italiana, cerâmica de vidrado estanhífero entre outros. Cronologicamente o material insere-se entre os séculos XV a XIX.
Resultados: Os trabalhos arqueológicos permitiram a detecção na sondagem 3 e 6 de estruturas arqueológicas preservadas ao nível dos alicerces, construídas em alvenaria de pedra calcária unida com argamassa de cal de consistência média a compacta. Contudo quer numa sondagem quer noutra não foi possível apurar quais as funções destas estruturas, sendo igualmente dúbia a sua cronologia. Importa referir que uma das estruturas detectada na sondagem 6, corta uma fossa onde foi possível recolher material arqueológico enquadrável entre os séculos XV-XVII. As restantes sondagens possibilitaram o registo de diversos níveis de aterro e pisos em terra batida onde foi possível recolher material arqueológico inserido nos períodos Moderno/ Contemporâneo. A sondagem de solo 5 aberta no limite Oeste do edifício permitiu a detecção da Muralha Fernandina, constituída por um enchimento de argamassa de cal de forte consistência onde surge incluso pedras de pequenas dimensões de calcário e numerosas conchas fossilizadas.
As sondagens parietais abertas no alçado Oeste do edifício permitiram igualmente detectar a Muralha Fernandina, conservada a alturas diversas, encontrando-se melhor preservada nos limites Sul e Norte da fachada. Importa ainda referir que os trabalhos de arqueologia da arquitectura efectuados permitiram-nos perceber que o torreão SO do actual edifício terá reaproveitado um antigo torreão da Muralha Fernandina. Os trabalhos arqueológicos possibilitaram ainda levantar a hipótese de que o compartimento abobadado existente na ala Oeste do piso térreo, possa corresponder a uma pré-existência anterior ao terramoto de 1755.
Responsáveis pelo Projecto: Nuno Neto, Paulo Rebelo e Vanessa Mata