A intervenção arqueológica na Calçada do Lavra revelou uma série de contextos com uma diacronia vasta, desde o período Contemporâneo a época Romana. Do ponto de vista metodológico pode ser dividida em duas fases: uma primeira que incidiu fundamentalmente nos contextos estruturais contemporâneos, onde a escavação foi feita com o apoio de meios mecânicos; seguida de escavação exclusivamente com meios manuais, nos contextos de época Moderna e Romana.
O presente relatório pretende fazer uma sumula, à data, dos dados recolhidos, assim como do registo executado em campo.
Os trabalhos arqueológicos na Calçada do Lavra ainda se encontram em curso, permitindo, no entanto, atestar já nesta fase preliminar, não só uma extensa diacronia de ocupação, como também contextos que se revelam de particular raridade e importância patrimonial, nomeadamente os associados a uma necrópole de cronologia romana.
Os vestígios mais recentes associam-se ao período contemporâneo, que revelaram os restos do edificado preexistente, construído provavelmente no séc. XIX e com algumas alterações estruturais até à sua demolição, em finais do séc. XX. Distingue-se neste edificado uma área, a Sul, que tinha características de um espaço anexo, de resto consentâneo com a cartografia consultada e um espaço de implantação do corpo principal do edifício, com paredes que o alicerçam mas também outras, delimitadoras de espaços de ocupação. Os alicerces fundam-se já em níveis de época moderna.
Já de época anterior ao terramoto de 1755, foram identificadas duas fossas. Uma delas em particular permitiu-nos datar outro momento de ocupação do espaço, concretamente através de um conjunto de cerâmica utilitária que se enquadra num espaço de tempo entre os sécs. XVII-XVIII. Estas estruturas negativas cortavam um depósito de aterro, com alguma espessura, que cobria uma série de realidades que associamos, neste momento, à extracção e processamento de argila, a matéria-prima disponível localmente. Os materiais que se enquadravam no enchimento de uma estrutura, que do ponto de vista morfológico identificamos como uma eira/tanque, recuam esta ocupação para o séc. XVI-XVII, sendo necessário um estudo mais aprofundado dos materiais recolhidos em fase posterior.
De um ponto de vista estratigráfico, estes últimos contextos cortam já depósitos de cronologia romana, que cobrem uma área de necrópole. O espaço caracteriza-se pela variabilidade de tipos de contextos funerários, ora associados a rituais de cremação, ora a inumações “simples”, que convivem no mesmo espaço e cronologia. Destacamos a presença de um conjunto de 13 busta, às quais se associam, não só os restos osteológicos do processo de cremação, como um espólio votivo muito completo; 3 inumações simples e 4 estruturas que se prefiguram como monumentos funerários. Atendendo à fase preliminar dos trabalhos, não nos é possível aferir cronologias com maior precisão, sendo que algum do espólio mais característico identificado, nos permite avançar a hipótese de estarmos perante uma ocupação dentro do séc. III.