Trabalhos de escavação arqueológica executados na Rua das Parreiras, 20-22, em Carnide, Lisboa. Foram executadas três sondagens de diagnóstico arqueológico que revelaram diferentes realidades, estando duas delas previstas no Plano de Trabalhos aprovado e a terceira proposta em adenda ao PTA devido a uma alteração de projecto. Efectuou-se ainda a abertura de três sapatas para implantação da estrutura de contenção da parede Este, igualmente apresentadas em adenda ao PTA.
A Sondagem 1, com 2m x 2m, localizada no espaço de logradouro do imóvel, revelou a existência de um muro no sentido Oeste-Este, junto ao corte Sul. Trata-se de um muro construído em tijolo de burro e argamassas, com uma espessura de cerca de 10/12cm e uma potência preservada em altura entre 30cm (a Este) e 15cm (a Oeste). Os tijolos estão colocados com inclinação que sugere que se trata do arranque de pequenos arcos, e encontra-se revestido a estuque de ambos os lados.
Para Sul, já mais no perfil, detectou-se o derrube do muro, que continha algum material cerâmico que permitiu datar a sua destruição no Século XVIII, ou seja, muito provavelmente no Terramoto de 1755.
É um muro de construção de época Moderna, anterior ao imóvel actual que terá sido construído em 1790 de acordo com dois painéis de azulejos presentes na casa adjacente que foi construída juntamente com esta.
Inicialmente, estava prevista a colocação de um pilar neste local, o qual não iria atingir o muro directamente, mas com a alteração de projecto, passou apenas a existir uma viga no sentido Oeste-Este, que atravessa a sondagem sensivelmente a meio. Toda a área a Sul da viga (onde se inclui o muro e o derrube) será rebaixada até uma cota de cerca de 1,5m abaixo da actual, trabalhos estes que irão afectar o muro em toda a sua extensão.
Sob o muro, surgiram depósitos de provável formação pré-histórica, mas praticamente desprovidos de materiais.
A sondagem 2 foi aberta no interior do edifício, no compartimento mais a Sul, onde surgiu um silo com uma profundidade de cerca de 1,50m e um diâmetro de cerca de 1,20m. Como esta estrutura negativa foi detectada no perfil Oeste, foi necessário fazer um alargamento de 50 cm para se conseguir identificar a totalidade da boca do silo e poder-se escavar em toda a sua profundidade. O seu interior não revelou descarte de materiais domésticos, mas apenas sedimentos e telhas. No seu fundo encontrava-se uma mó que possivelmente seria a tampa original do silo enquanto estrutura de armazenamento de cereais, e que foi descartada com a sua reutilização no Século XVII. Na restante área da sondagem, o substrato geológico surgiu a cerca 30 cm de profundidade.
A sondagem 3 foi aberta no compartimento interior do imóvel, no local onde irá ser colocado um pilar, de acordo com a alteração efectuada ao projecto. Foram apenas detectados depósitos areno-siltosos, sobre a camada geológica, com possível formação pré-histórica, apesar de uma grande escassez de materiais (escassos exemplares de cerâmica manual e pedra lascada). O substrato geológico surgiu a cerca de 80cm de profundidade.
Sapatas
Devido ao facto da parede Este do edifício ser geminada com a do edifício adjacente, o desmonte das paredes só será possível após a construção de três pilares de reforço nesta parede. Foram marcadas três sapatas, uma no cunhal Nordeste, outra na direcção da viga que atravessa as sondagens 1 e 3, e outra junto ao cunhal Sudeste.
Depois da limpeza dos soalhos e aterros, nas sapatas 2 e 3 foi apenas escavado cerca de 10 cm de profundidade necessários à construção do pilar. Na Sapata 2, apenas surgiram os depósitos de possível formação pré-histórica, idênticos aos da sondagem 3. Na sapata 3, o substrato geológico surgiu de imediado, a menos de 10cm de profundidade.
Na área da sapata 1 não foi feita qualquer intervenção, já que para além da área ocupada pela parede apenas se projecta uma área de 15 cm para implantação do pilar, não sendo necessário aprofundar a cota.