A terceira campanha de escavação arqueológica no Beco do Loureiro, nº 16, levada a cabo pela Neoépica, em parceria com a Atalaia Plural pretendeu intervir em áreas a afectar pelo projecto de construção da Nova Creche de Santo Estevão, que não haviam sido escavadas nas fases anteriores. Efectuou-se ainda a escavação de uma pequena área junto à Igreja de Santo Estevão, para implantação da sapata da grua de apoio à obra.
A primeira fase de escavação arqueológica ocorreu entre Julho e Agosto de 2005, sob responsabilidade de Rodrigo Banha da Silva, Cristina Nozes e Pedro Miranda, do Museu da Cidade (actual CAL), tendo sido realizadas três sondagens arqueológicas: uma na zona Sul do terreno, onde se identificou a estrutura habitacional dos finais do século XVIII / inícios do século XIX; uma segunda na zona central, junto ao poço-cisterna ali existente; e a terceira na área Noroeste junto ao muro de fachada.
Entre Dezembro de 2011 e Janeiro de 2012, realizou-se uma nova campanha arqueológica, a cargo da Neoépica, Lda., sob responsabilidade de Raquel Santos, Paulo Rebelo e Nuno Neto, sendo efectuadas duas sondagens: uma primeira na área onde se havia identificado a estrutura habitacional, com cerca de 110m2, comprovando-se a existência de uma ocupação de época Moderna/Contemporânea, patente no conjunto edificado composto por zona habitacional e pequena indústria (possivelmente de forja); e a segunda sondagem, na zona Norte do terreno, com 4m2, registando-se sucessivos níveis de aterro que forneceram materiais enquadráveis entre os séculos XV e XVI.
Os trabalhos arqueológicos efectuados nesta fase permitiram completar mais a informação já recolhida nas duas anteriores intervenções e, por conseguinte, o próprio conhecimento acerca do local. Desde logo, a identificação dos muros limites do complexo habitacional, para Este – Muros [206/209] – que fecham os compartimentos 3 e 4; e para Sul – Muro [603]. Os aterros que cobriam estas estruturas, tal como acontecia com o interior do complexo habitacional, remetem para uma desactivação do espaço no século XIX, o que vem corroborar os dados recolhidos na cartografia antiga, verificando-se que a partir dos inícios do século XX já não é apresentado nenhum edifício naquele local.
No interior do complexo, a intervenção permitiu a total escavação e registo do interior dos compartimentos 2 e 3, com destaque neste último caso, para o facto de o interior ter dois tipos de pisos diferentes, que aparentemente chegaram a coexistir, nomeadamente um de terra batida/argila e outro de calçada de seixo. Destaque igualmente para a identificação do pilar Norte da passagem entre os compartimentos 3 e 4, que possibilitou a interpretação desta passagem como sendo um arco em tijoleira e argamassa, assente em pilares compostos na sua essência por elementos pétreos reaproveitados, certamente de edifícios circundantes afectados pelo Terramoto de 1755.
Esta intervenção facilitou igualmente uma leitura mais completa da estrutura da forja e do espaço onde foi implantada, no interior do complexo, e não numa área externa à propriedade.
Para Este, fora do muro limite [206], a identificação do poço [204], certamente de construção anterior à cisterna, mas com desactivação e aterro contemporâneo à destruição do complexo habitacional. Poderia servir esta propriedade, aproveitando o curso de água subterrâneo, mais tarde aproveitado igualmente pela cisterna.